O REFEITÓRIO: FORMAÇÃO DO AMBIENTE A PARTIR DO ESPAÇO
“Espaço construído é o que está à nossa volta, compreendida a ação humana, que é fruto de escolhas. O que permanece é o escolhido pelo grupo, e tem certo valor de representação. Compreender o espaço construído é compreender a sociedade – o grupo envolvido”.
Roberto Pastana Teixeira Lima, 2004.
Para a estruturação do refeitório para as crianças pré-escolares, é necessário primeiramente refletirmos sobre o espaço destinado às refeições, fazendo algumas considerações:
O que é o espaço do refeitório, como é utilizado, como é avaliado em sua função e quem o avalia, como está organizado, como são os tempos de uso e de espera:
- da refeição ficar pronta,
- das crianças para pegar o prato,
- da duração das refeições.
Cada uma destas questões sobre o espaço leva à sua funcionalidade, conforme o olhar dos envolvidos.
O espaço como local físico pode ser caracterizado pela área abrangida, sua luminosidade natural ou artificial, sua ventilação, entradas e saídas – portas e janelas, local de passagem. Podemos incluir aqui o mobiliário existente e sua distribuição e disposição – de acordo com o tamanho e idade das crianças; pela decoração feita pelos educadores e/ou pelas crianças; pelos objetos para atividades e materiais didáticos. Estes itens já englobam também a ação dos educadores, que definem de certa forma como o recinto será arrumado e enfeitado, com objetos de sua confecção, incluindo atividades realizadas pelas crianças, com que tipo de material, cores e tamanhos utilizados.
O ambiente será formado pelo espaço físico somado às relações que se estabelecem no mesmo, entre a criança e os objetos, entre a criança e os colegas, entre a criança e os adultos. As relações interpessoais, os afetos, as interações durante as refeições – o modo como os educadores conduzem esses momentos, com palavras de apoio, encorajamento e afeto – são atitudes positivas em relação à educação alimentar desenvolvida na educação infantil.
Vemos então, que os espaços e os ambientes formados por ele atuam em quatro dimensões concomitantes:
Dimensão Física: o que há e como se organiza o espaço físico, com as crianças presentes.
Dimensão Funcional: como se utilizam os espaços e por que; nos diferentes módulos - parque, refeitório, banheiro, sala de TV- video, enfermaria.
Dimensão Temporal: quando e como é utilizado cada espaço.
Dimensão Relacional: quem e em que circunstâncias participam e interagem.
No ambiente do refeitório forma-se parcialmente a construção da identidade e da intimidade das crianças, ambas muito relacionadas com a alimentação e com o meio onde se está inserido. Também a construção do conhecimento ocorre nesses momentos, organizando conteúdos nas áreas de interesse.
Posturas positivas dos educadores podem ser observadas quando:
- A criança come com vontade e espontaneamente, em ambiente tranqüilo
- A comida oferecida está sempre em temperatura adequada
- Utilizar utensílios higienizados, oferecendo alimentos seguros
- Deixar a criança comer o suficiente, respeitando seus limites
- Servir refeições iguais para todos os presentes (dietas especiais devem ser explicadas às crianças)
- Deixar a criança se servir quando estiver preparada
- Havendo condições, deixar a criança repetir alguns alimentos
Segundo BOOG (1998), o conceito de educação nutricional é “uma busca compartilhada entre educador e educando, de novas formas e novos sentidos para o ato de comer, que se processa em determinado tempo e local, através da interação e do diálogo, por meio da qual se almeja a qualidade e a plenitude do viver”.
Esse conceito é plenamente aplicável no contexto de creches, onde é observada profunda interação dos educadores com as crianças. Os momentos das refeições na creche são considerados como atividades pedagógicas de grande valor no aprendizado infantil. Nas refeições ocorre cotidiana e paulatinamente uma adaptação ao meio social adulto, transformando as crianças em função do conjunto de realidades coletivas, às quais a consciência comum atribui algum valor, o que comumente chamamos de boas maneiras. É também nesse meio social que a criança vai moldar suas preferências alimentares e sua capacidade de ingestão, o que ocorre entre 2 e 5 anos de idade.
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