quarta-feira, 1 de maio de 2013

CONSUMO ENERGÉTICO DO PRÉ-ESCOLAR DE CRECHES, artigo de Cecilia Holland, publicado na Revista Nutrire, vol. 25, junho 2003.


Day care centers preschoolers energetic consumption
Artigo original/Original Article

ABSTRACT
  
HOLLAND, C.V.; SZARFARC, S.C. Day care centers preschoolers

energetic consumption. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc.

Food Nutr., São Paulo, SP. v.25, p. 73-82, jun., 2003.
 
This paper describes the offer, the dietetic intake and the energetic

adequacy of food ingestion of preschool children of two public day care

centers in the City of São Paulo, Brazil. The contribution of meals/food offered

to 82 children ranging from 3 to 4 years of age in the day care center and in

the children’s home was verified in terms of caloric needs. In the day care

center the meals were measured by means of direct weighing method, and

in the children’s home they were evaluated by a 24-hour complementary

food questionnaire, through an interview with the mother/guardian. It was

verified that all children had meals at home, and supper was the most

common meal in 80.5% of the studied sample. Although the day care center’s

aim was to provide 100% of the daily energetic needs, only two pre-school

children had more than 80% of the recommended caloric value. After

evaluating the intakes at home and at the day care center, it is worth

emphasizing the similarity between the proportions consumed in both places.

Of the total intake, nearly half of the pre-school children (48%) were deficient/

or at risk of deficient caloric diet; 36% had a quantitatively adequate diet;

and 7 of them were at risk of energetic excess or with excess diets. A statistically

significant tendency (p<0,025) was observed in the pre-school children who

ate less at the day care center: he/she would eat more or have more meals at

home, and vice versa. Changes in the number, schedule and meals

composition after lunch time were recommended, as means of improving

the children’s appetite, allowing better coverage of the daily caloric needs

where he/she spends most of the day, trying to cope with the target of reaching

100% of the energetic needs.
 
 
 
 
 
Keywords: Energy intake;

pre-school children; meals;

day care centers.
 
 

 
RESUMO
 
Este trabalho descreve a oferta, consumo

dietético e adequação energética da ingestão alimentar

de crianças de duas creches públicas do

município de São Paulo. Foi verificada a participação

da alimentação oferecida na creche e no

domicílio, de 82 crianças de 3 e 4 anos, no atendimento

das necessidades calóricas. Na creche, a

alimentação foi avaliada por meio de pesagens

diretas, e no domicílio, foi averiguada por meio

de inquérito alimentar recordatório complementar

das 24 horas, em entrevista com as mães. Foi

verificado que a totalidade das crianças ingeria

refeições em casa, sendo o jantar a refeição mais

freqüente (80,5% da população estudada). Embora

a creche tivesse como meta fornecer 100%

das necessidades energéticas, apenas duas crianças

ingeriram mais de 80% do valor calórico recomendado.

Computados os consumos na creche

e em casa, destaca-se a semelhança entre a proporção

consumida em ambos locais. Do total ingerido,

praticamente metade das crianças (48%)

ingeriu no dia alimentar dietas deficientes ou em

risco de deficiência calórica, 36% delas, dietas

quantitativamente adequadas e 7 dietas

energeticamente com risco de excesso ou em excesso.

Verificou-se tendência estatisticamente

significante (p<0,025) da criança que comia pouco

na creche, comer mais e/ou fazer número

maior de refeições no domicílio ou vice-versa.

Recomendaram-se mudanças no número, horários

e composição das refeições posteriores ao almoço,

propiciando o aumento do apetite da criança,

e dessa forma permitindo o atendimento

de maior parte da necessidade calórica diária da

criança na instituição, onde ela passa a maior

parte do dia, cumprindo ou se aproximando mais

do compromisso de alimentar a criança em 100%

da sua necessidade energética.
 
Palavras-Chave: Consumo energético;

pré-escolar, creche, refeições
 
 
HOLLAND, C.V.; SZARFARC, S.C. Consumo energético do pré-escolar de creches. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc.

Food Nutr., São Paulo, SP. v.25, p. 75-84, jun., 2003.
 
INTRODUÇÃO
 
Embora as propostas de implantação das creches refiram, sem exceção, o atendimento

global da criança, a preocupação com a alimentação suplanta em muito a atenção

da instituição em relação às outras atividades.

As creches são orientadas para que componham um cardápio balanceado e adequado

à idade das crianças, com 5 refeições diárias: café da manhã, hidratação, almoço, lanche da

tarde e jantar, que são servidas entre as 7 e 17 horas com intervalos pequenos entre elas.

O planejamento básico dos cardápios de creches conveniadas é feito pela Secretaria

Municipal de Abastecimento (SEMAB), que leva em conta as recomendações dietéticas

diárias, considerando a idade das crianças, para o envio mensal dos gêneros alimentícios

não-perecíveis. Os gêneros perecíveis são comprados pela direção da creche, com a

verba recebida do convênio com o município, da qual 20% são destinadas ao item ‘alimentação’.

As creches são orientadas para que componham um cardápio balanceado e

adequado à idade das crianças que atenda a 100% das recomendações.

De certa forma, as ações na creche estão centralizadas na alimentação, sendo que

as refeições ocupam boa parte do tempo da criança que lá passa o dia inteiro.

Para a família, a creche representa principalmente a oportunidade de ter seu filho

alimentado adequadamente com comida farta e de boa qualidade em um ambiente seguro.

Ela não tem pretensões de “cobrar” da instituição, atividades que incentivem o desenvolvimento

motor e cognitivo da criança, ou seja, o preparo para a entrada na escola,

diferentemente do que é considerado atribuição principal das “escolinhas” maternais e de

pré-primários pagos.

No entanto, mesmo com o enfoque centrado na alimentação, os estudos realizados

com vistas a avaliar a adequação de consumo energético de crianças que freqüentam

creches públicas relatam a baixa ingestão calórica da sua clientela (MANOEL, 1986;

JANSEN, 1988; LOPES Filho, 1992).

O programa de alimentação para as creches da SEMAB, com base nas recomendações

alimentares diárias propostas pelo National Research Council (NRC, 1989), visa fornecer diariamente

1300 calorias e 16 gramas de proteínas para crianças de um ano e meio a três anos,

e 1800 calorias e 24 gramas de proteínas para as de quatro a seis anos, valores que correspondem

a 100% das recomendações para esses grupos populacionais (PMSP/SEMAB,1996).

Dessa forma, considerando a importância básica da alimentação na qualidade de

vida e o papel fundamental que a creche assistencial representa no atendimento das

necessidades nutricionais da criança que lá passa a maior parte do tempo em que está

acordada, fixamos o objetivo deste trabalho: descrever a oferta, a ingestão e a adequação

de consumo das refeições oferecidas aos pré-escolares que freqüentam creche, na instituição

e em seu domicílio.
 
 

 

 
 

 

 
 
MÉTODOS
 
O estudo foi feito com 82 crianças de duas creches indiretas (construídas e equipadas

pelo município, administradas por entidades não governamentais) conveniadas com

a Prefeitura Municipal de São Paulo (PMSP). Foi escolhido o módulo maternal, que atende

crianças de três e quatro anos, que recebem alimentação variada, com diferentes

preparações culinárias.

A avaliação do consumo foi feita uma única vez para cada criança do estudo.

Nas creches, a ingestão foi avaliada pelo método de pesagem direta, utilizando uma

balança eletrônica. Os alimentos prontos foram pesados à medida que o prato ia sendo

montado, obtendo-se, dessa forma, o peso de cada preparação ou alimento. Após a refeição,

foram pesados os restos do prato, verificando-se então a ingestão real da criança.

No domicílio, a análise foi quantitativa das práticas alimentares e constou da verificação

das refeições e alimentos consumidos pelas crianças, no mesmo dia da avaliação

de consumo por pesagem na creche. Foi feita no dia seguinte ao acompanhamento das

refeições da criança na creche, através de entrevista com a mãe/responsável, aplicando

inquérito alimentar recordatório complementar, com vistas a obter os dados do que foi

ingerido pela criança no dia anterior, tanto pela manhã, antes de a criança chegar à

creche, como após sua saída à tarde, até a hora de dormir, totalizando assim as 24 horas

do dia alimentar.

No intuito de facilitar o relato pelas mães ou responsáveis sobre a quantificação

dos alimentos ingeridos pelas crianças em casa, foram utilizadas amostras de medidas

caseiras, utensílios e porções, além de fotos de tamanhos mais usuais de porções

(ZABOTTO et al., 1996).

Os dados coletados foram analisados no Programa Virtual Nutri (PHILIPPI et al.,

1996), calculando-se a adequação de consumo e a classificação do estado nutricional de

cada criança. Este programa classifica o consumo segundo a sua capacidade de atender à

necessidade energética de cada indivíduo, levando em conta seu peso específico, gênero

e idade (SZARFARC et al, 1994).

O teste T pareado foi utilizado para avaliar a associação entre o consumo energético

na instituição e no domicílio.

 
RESULTADOS
 
O almoço na creche é a refeição mais completa, normalmente contendo alimentos de

todos os grupos, sempre com a presença de arroz, feijão carne ou substituto, além de salada,

e também de frutas frescas na sobremesa, fornecendo potencialmente os macro e

micronutrientes essenciais, no intuito de oferecer uma refeição balanceada. O jantar é uma

refeição mais simples na sua apresentação, geralmente um prato único, de fácil distribuição,

seguido de uma sobremesa mais energética, podendo ser uma banana, ou uma sobremesa
 

 




 

 
 
industrializada, como pudim, canjica, sagu, goiabada ou bananada. As sopas, utilizadas habitualmente
nesta refeição são, na maioria das vezes, industrializadas, sendo por vezes adicionadas

de outros alimentos naturais, muitas vezes sobras excedentes do almoço, para variar o

sabor e a textura, como hortaliças e fontes de amido, conforme a disponibilidade.

São poucas as alternativas de sabor para o leite no café da manhã e no lanche,

sendo chocolate o favorito, ocorrendo a variação do cardápio apenas nos acompanhamentos

(pão, biscoitos, bolo).

Com relação à alimentação no domicílio, encontrou-se que a totalidade das crianças

faz pelo menos uma refeição em casa (Gráficos 1 e 2): 61,0% delas ingere o desjejum;

a mesma proporção toma um lanche ao chegar em casa e 42,7% faz ainda outro lanche

antes de dormir, no entanto, a refeição mais freqüente é o jantar, presente entre 80,5% das

crianças (Gráfico 1).
 
Gráfico 1 Distribuição porcentual das crianças, segundo as refeições feitas no

domicílio, 1999

Gráfico 2 Distribuição percentual das crianças, segundo o número de refeições

feitas no domicílio, 1999
 


 

 
 

 

 
 

 



 
Chama a atenção o grande número de crianças que consome três refeições no

domicílio (Gráfico 2), sendo habitualmente uma delas oferecida pela manhã antecedendo

a ida à creche e duas pós-creche; ou todas as três após o dia na creche. Normalmente,

quando a criança já havia tomado o leite em casa, chegando à creche ela só comia o

acompanhamento, pão ou bolacha. As refeições no período pós-creche ocorreram entre

cinco horas da tarde e onze da noite, sendo bastante freqüente o lanche pós-creche. O

‘jantar’ na instituição, habitualmente uma sopa de pouca densidade calórica, já teria sido

consumido há mais de uma hora, sendo esse um período em que a criança teria apetite

novamente. À semelhança do que é servido na creche, o arroz e o feijão foram os alimentos

mais freqüentes no jantar, complementado entre 18,3% das crianças com frango e

entre 26,8% delas com carne bovina. Ovos, salsichas e peixes foram menos freqüentes,

estando presentes em 8,5%, 4,9% e 3,6% respectivamente, na composição do jantar.

No desjejum feito em casa, antes de irem à creche, o leite esteve presente na

alimentação da maioria absoluta (56%) das crianças que fizeram essa refeição no domicílio.

Igual proporção o tomou também à tarde, logo que chegaram em casa sendo que

27% delas consumiram o leite adicionado apenas de açúcar; 22% adicionando achocolatado,

12% com café; 11% com farinha de arroz e 6% com amido de milho.

Salgadinhos e refrigerantes estiveram presentes na alimentação de 10,9% e 21,9%

das crianças, respectivamente, valores preocupantes, uma vez que tendem a aumentar

com a idade dos pré-escolares.

Frutas e verduras para salada (predominando alface e tomate) tiveram ambos 14,6%

de presença, ao lado do baixo valor de 3,6% dos legumes, destacam a pouca procura

desses alimentos por parte das famílias.

A Tabela I, ressalta que a participação da alimentação no domicílio, embora seja

pequeno o tempo da criança acordada em casa, quando comparado com as 10 horas que

ela passa na creche, não é desprezível, sendo seu teor energético médio, próximo daquele
 

ingerido na instituição. A média de consumo calórico na creche foi de 46% ・}14,6%,

valor esse não muito diferente do referido para a criança em casa: 40% ・}17,7%.





Tabela I Consumo energético diário das crianças, distribuídas segundo intervalos


de adequação energética na creche, São Paulo, 1999

Intervalos de adeq. No. % de consumo % de consumo % de consumo

consumo na creche creche casa total
<30 11 22,5 51,3 73,8

30 50 38 41,2 40,9 82,1

50 80 32 57,6 35,2 92,9

80 2 83,5 22,5 106,0

Total 83 46,1・}14,6 39,7・}17,7 85,7・}19,9





HOLLAND, C.V.; SZARFARC, S.C. Consumo energético do pré-escolar de creches. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc.


Food Nutr., São Paulo, SP. v.25, p. 75-84, jun., 2003.

81
A tabela II categoriza o consumo dos pré-escolares estudados de acordo com a

ingestão energética total do dia. A classificação foi fixada considerando a necessidade

calórica por quilo de peso de uma população padrão (NCHS), e ainda, a idade e gênero

da população amostral conforme registrado no Programa de Avaliação Nutricional Virtual

Nutri (PHILIPPI et al, 1996).
 
Tabela II Adequação da dieta dos pré-escolares, Município de São Paulo, 1999
Adequação Categoria Pré-escolares

energética de consumo No. %
< P3 Deficiente 26 31,73%

P3 P10 Risco de deficiência 13 15,85%

P10 P90 Normal 36 43,90%

P90 P95 Risco de excesso 3 3,65%

> P95 Excesso 4 4,87%

Total 82 100%

 
DISCUSSÃO
 
Apesar de ser substancial a oferta das refeições na creche, observou-se que nenhuma

criança ingeriu a quantidade de alimentos suficientes para atender o consumo calórico

adequado para sua idade. A participação da instituição nesse sentido, foi bastante deficiente.

Apenas 5 crianças (6%) consumiram mais de 70% de suas necessidades energéticas

diárias, enquanto 2 delas não ingeriram sequer 20% da energia recomendada naquele local.

Chama a atenção a tendência estatisticamente significante (teste T pareado = -0,246;

p=0,025) da compensação da ingestão calórica total do dia: se a criança come pouco na

creche, ela acaba tentando complementar o necessário com a alimentação no domicílio.

Resultado semelhante foi observado por MANOEL (1986) que verificou, após a realização

de inquérito alimentar por meio do método de observação direta, associado ao recordatório

de 24 horas, que cerca de 71% dos pré-escolares de uma creche na periferia da zona sul do

município de São Paulo encontram-se com dietas deficientes em calorias. MANOEL (1986)

mostra, ainda, que quando a creche fornecia alimentos em quantidades mais satisfatórias e

havia restrição de alimentos no domicílio, a proporção de consumo na creche era satisfatória.

No entanto, foi verificado que quanto menor a ingestão calórica no domicílio, maior é a

ingestão calórica na instituição mas mesmo assim é maior a carência energética da dieta.

Esse consumo bastante distanciado das necessidades calóricas da criança, como já

referido, também foi encontrado em outros estudos. Também JANSEN (1988) concluiu

ser baixa a ingestão calórica de crianças de um centro comunitário de Belo Horizonte,
 
 .
 
avaliado por meio do método de pesagem direta. Estudo de LOPES Filho (1992) mostra

que o consumo energético é insuficiente em dois centros infantis para crianças de 4 a 7

anos em Campinas. O autor relata que no centro infantil onde as crianças utilizam o ‘autoserviço’,

a ingestão de alimentos e, conseqüentemente, da maioria dos nutrientes, foi

maior. Ele sugere que sejam feitas investigações para se conhecer o consumo dos préescolares

fora dos centros infantis, e estudos sobre os diferentes sistemas de distribuição

de refeições (prato feito e auto-serviço).

Considerando o consumo na creche, não surpreende que a totalidade das crianças

tenha se alimentado também em casa, ou seja, a alimentação da creche é sempre

complementada em casa em seu aporte calórico.

O baixo consumo energético não é restrito à população brasileira. BRILEY et al. (1993)

verificaram a média de consumo de apenas 40% da energia recomendada pelo

Recommended Dietary Allowances (RDA, 1989) nos cardápios ofertados por 171 creches




do Texas, Estados Unidos, para crianças de 3 a 5 anos, havendo também a preocupação


com o que era consumido no domicílio.


No trabalho de AMARAL et al. (1996), uma creche em Ribeirão Preto, SP, tem a

proposta de suprir 70% das necessidades nutricionais diárias, considerando o tempo de

permanência de 9 a 10 horas, e a capacidade de absorção do organismo, sendo o

restante, de responsabilidade da família. È uma proposta mais realista, considerando os

dados disponíveis.

Mesmo considerando as necessidades quantitativas da criança e a meta da creche

de atendê-las integralmente, não pode ser esquecido que o jantar em casa, com os outros

membros da família, tem um significado que vai além da necessidade de alimentos: é a

parte do dia, provavelmente única, em que as pessoas estão convivendo juntas, momento

em que os valores culturais e familiares são passados às crianças. Devido à valorização

desse convívio, além da complementação das necessidades energéticas diárias, o jantar

no domicílio deve ser estimulado, em detrimento do chamado ‘jantar’ da creche, uma vez

que lá, essa refeição não apresenta nem um bom aporte calórico, nem horário adequado

para essa refeição, e muito menos um significado social especial no grupo.

Considerando a proposta de atendimento das necessidades diárias, em termos de

operacionalização das refeições na instituição, e considerando que crianças podem regular

sua ingestão energética no período de 24 horas, alternando menor ou maior ingestão

de alimentos conforme a densidade energética da refeição anterior (BIRCH, 1998), o ideal

seria que o lanche da tarde na creche fosse servido um pouco mais tarde que o horário

habitual, e que fosse mais reforçado, ou seja, ofertando-se um cardápio contendo uma

preparação com maior densidade calórica (leite ou suco, torta de frango/cuscuz e uma

fruta, por exemplo) suprimindo-se o jantar. Pode-se deixar como opcional a preparação

e oferecimento do jantar, como ele é concebido atualmente (ou seja, na apresentação de

uma sopa) para apenas àqueles que quiserem.
 
Conforme AMARAL et al. (1996), o planejamento e a organização relacionados

aos processos de introdução ou modificação de hábitos alimentares precisam ser

efetuados de forma muito cautelosa, pois as ações realizadas acabam por interferir

intensamente tanto na rotina familiar como nas representações das famílias acerca da

alimentação e do papel da creche nesse processo.


CONCLUSÕES
 
A análise da alimentação oferecida e consumida pelas crianças na creche e no

domicílio, permitiu as seguintes conclusões:

Embora a oferta de alimentos seja suficiente para atender as necessidades

energéticas das crianças na instituição, o consumo médio na creche está muito

aquém do adequado (46,1+-15), sendo que mais da metade das crianças não atinge

50% das necessidades, mesmo considerando o consumo em casa e na instituição.

Das 83 crianças estudadas, apenas 2 consumiram a quantidade de calorias recomendada

para elas.

O tempo de 10 horas de permanência na creche é insuficiente para permitir

que seja atingido o total calórico recomendado para cada criança nas 24 horas. Há

necessidade da alimentação da criança ser complementada em casa, uma vez que

a creche não consegue suprir as necessidades energéticas do pré-escolar em sua

totalidade

Todas as crianças alimentaram-se em casa, sem exceção. A alimentação no domicílio

foi feita em até quatro refeições, sendo três após a saída da creche, das cinco horas

da tarde até a criança dormir.

 
CONSIDERAÇÕES FINAIS
 
Refeições são atos sociais, desde a elaboração do cardápio, até a distribuição das

preparações, incluindo o comportamento e atitude do grupo, representando uma cultura

coletiva local e regional. Adaptações a um esquema único, elaborado para fins de programação

e compras são necessárias para o sucesso dos objetivos.

O jantar na creche é servido em horário inadequado, entre 15:30 e 16 horas. Por ser

o encerramento das atividades do dia, há inclusive uma simplificação de sua forma, bem

distinta do almoço, quando o ambiente é mais estimulador.

Essa refeição deve ser repensada, por ser pouco aproveitada em termos calóricos,

uma vez que as crianças comem um lanche em casa logo que chegam da creche, e mais

tarde ainda comem o jantar, propriamente dito, junto com a família.
 
HOLLAND, C.V.; SZARFARC, S.C. Consumo energético do pré-escolar de creches. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc.

Food Nutr., São Paulo, SP. v.25, p. 75-84, jun., 2003.

 
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Recebido para publicação em 12/06/03.

Aprovado em 30/06/03.